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Mutirão aconteceu na comunidade do Tucumirim, na Derradeira, zona rural de Valença, no último dia 09 de dezembro

Estudantes, egressos(as), pós-graduandos(as) e professores dos cursos Técnico Subsequente em Meio Ambiente, Licenciatura em Ciências Biológicas e Especialização em Meio Ambiente e Agroecologia implantaram, na cozinha coletiva da comunidade do Tucumirim, um sistema ecológico de tratamento de esgotos do tipo BET – Bacia de Evapotranspiração.

Com o objetivo de apresentar novas tecnologias e ações de saneamento ecológico em comunidades rurais, a instalação da BET foi mais um passo para fortalecer o tema do saneamento rural na formação técnica-profissional, visando a popularização e difusão de tecnologias sociais em saneamento. A ação – que contou com a participação da coordenadora de Defesa Civil do município, a engenheira civil Eunice Pereira – faz parte do Projeto “Expedição Territorial pela Bacia do Rio Piau/Una” em parceira com o NUGEA (Núcleo Local de Gestão de Resíduos Sólidos e Educação Ambiental) do IF Baiano.

Os professores Eduardo Barcelos, Cleidiene Fiúza e Perimar Moura, coordenadores do curso de Meio Ambiente, destacaram que esta tecnologia é adaptada para diferentes contextos ambientais e sanitários e pode garantir melhores condições de vida no campo. “Precisamos revolucionar o Baixo Sul com inovação tecnológica e implementação de técnicas de baixo custo e alta eficiência. É preciso comemorarmos muito esta iniciativa, pois é um legado que os cursos deixam para nosso Território”, comenta Perimar Moura.

A motivação para a instalação da BET veio da própria comunidade. Segundo Eduardo Barcelos, este sistema de saneamento foi uma reivindicação das mulheres organizadas pela COOMAFES (Cooperativa Feminina da Agricultura Familiar e Economia Solidária) que trabalham na cozinha comunitária produzindo doces, bolos, beijus, sequilhos entre outros alimentos. A cozinha, que conta com um banheiro, não tinha sistema de esgotamento sanitário construído. “Recebemos com muita alegria e desafio este chamado das mulheres agricultoras e sintonizamos esta demanda com a formação profissional no campo do saneamento e da saúde do campo.

A iniciativa, embora pontual, abre boas perspectivas para o enfrentamento da situação sanitária no campo, das iniquidades em saúde e dos processos de adoecimento. Avançar no saneamento é fortalecer a saúde coletiva e os direitos humanos”. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em 2021, apenas 44% da população rural de Valença tem acesso a algum tipo de sistema de esgotamento sanitário. Esta realidade é um reflexo de décadas de precarização das políticas sanitárias e de omissões históricas do poder público, embora o município já tenha elaborado o plano e a política municipal de saneamento.

O que são BET – Bacias de Evapotranspiração?

Também conhecida como fossa verde, ecofossa ou fossa de bananeiras, a BET é um sistema ecológico de tratamento para águas de vaso sanitário que faz o aproveitamento da água e dos nutrientes presentes no esgoto a partir do metabolismo de plantas e de camadas filtrantes.

Difundida por permacultores de diferentes países, a BET é construída a partir de restos de entulho, brita e areia e com um compartimento central feito de pneus, por onde o esgoto é “digerido” por bactérias.

É uma solução tecnológica em saneamento recomendada para comunidades rurais, moradias e propriedades isoladas dos sistemas públicos de esgotamento sanitário. O sistema consiste em um tanque (reator) impermeabilizado com lona ou estrutura de alvenaria, preenchida com camadas de substrato e plantado com espécies vegetais de crescimento rápido e com alta demanda por água (bananeiras, taiobas). A entrada do esgoto no sistema é feita através de uma tubulação conectada a uma “câmara de digestão” feita de pneus, por onde ocorre processos naturais de degradação microbiana da matéria orgânica, mineralização de nutrientes, e a consequente absorção e evapotranspiração da água residual pelas plantas. Trata-se de um sistema de ciclagem de água e nutrientes que trata os esgotos de forma limpa e eficiente.

Estudos mostram que os alimentos e folhas que crescem na BET (bananas e taioba) não ficam contaminados por bactérias e outros microorganismos e, portanto, são seguros para o consumo humano. No entanto, não é recomendado o consumo de raízes (ex: inhame ou gengibre) ou frutos colhidos do chão.