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Estudantes do IF Baiano produzem cordéis sobre lendas e causos da Região
Atualizado em 20 de junho de 2023 às 13:53 horas | Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 16:13 horas

No dia 26 de novembro, na biblioteca do IF Baiano campus Itaberaba, os alunos do 1º ano do Curso Técnico Integrado de Agroindústria recitaram e apresentaram cordéis de autoria própria.

Durante o segundo semestre de 2019 foram realizadas oficinas de confecção e escrita de cordéis, ministradas pelo professor de Língua Portuguesa Elton Magalhães, que culminou na apresentação dos cordéis para comunidade acadêmica. A atividade envolveu pesquisa, escrita e confecção dos folhetos, feitas de forma artesanal, tudo supervisionado pelo professor.

Os textos escritos pelos alunos foram construídas a partir de depoimentos colhidos entre seus familiares e moradores de municípios da região do Piemonte do Paraguaçu, entre eles Itaberaba, Boa Vista, Iaçu, Marcionílo Souza. Os enredos foram inspirados nas histórias das cidades, causos e lendas presentes no imaginário popular local, como a da pedra do vaqueiro de Itaberaba e a da moça do trem de Marcionílo Souza.

A atividade faz parte do Projeto O jardim das avenidas que se bifurcam: Memória e esquecimento em Itaberaba, que de acordo com o coordenador professor Dr. Renato Salgado “tem como objetivo debater o conceito de “memória” nas diferentes áreas de ensino, buscando pensar e repensar a memória como fluxo de intensidade que ressignifica a relação entre as pessoas, o tempo e os espaços, dando especial atenção a relação entre o IF Baiano e a cidade que sedeia este campus”.

Os cordéis estão expostos na biblioteca para leitura e apreciação, até o final do ano letivo. A intenção é futuramente publicar os textos em formato de livro. Confira abaixo um dos textos:

O vaqueiro que brilha

Vou lhes contar uma história
Não precisam se avexar
Sobre um bravo vaqueiro
Que vivia a trabalhar
Pelejando pelos pastos
Com seu cão a lhe guiar.

O seu estudo foi pouco
Nem fez o primeiro grau
O professor foi o campo
O colégio era o curral
De família bem humilde
Seu trabalho era brutal.

Casou-se ainda jovem
Da vida nada sabia
Porém soube trabalhar
Ambição ele não tinha
Seu pirão sobre a mesa
Era sempre o que comia

A sua mulher muito linda
Tão formosa e educada
Tinha o nome de Jailza
Mas de Jai era chamada
Vivia a labutar em casa
Nunca ficava parada.

É a rainha do vaqueiro
Igual a ela não tinha
Naquela pequena casa
Felicidade sempre havia
A Jai amava cozinha
Macarrão, feijão e farinha.

Um bom caipira de fato
O vaqueiro era brutão
Montava em burro brabo
Amava sua profissão
Cantando pelas malhadas
Laçando boi no mourão.

Levantava muito cedo
Ao cacarejo do galo
Com o bater da cancela
Partia em direção ao pasto
Precisava trabalhar
Sempre atento ao gado.

Era uma sexta-feira
Numa manhã bem chuvosa
O vaqueiro preparado
Pra desleitar a manhosa
Vaca da cor amarela
É sempre muito gulosa

Chegando perto à porteira
Deu um grito na boiada
De repente ele sentiu
Falta do boi da chapada
O reprodutor do gado
Não estava na malhada.

Preocupado ele ficou
“O que o patrão vai pensar?”
O melhor boi da fazenda
Ele o teria que achar
Para o fazendeiro então
Ele não desapontar.

Em disparada saiu
Montado em seu alazão
Galopando pelo campo
Cortando mato de mão
De Jai mal se despediu
Partiu com toda a emoção.

O vaqueiro destemido
Mal sabia o que ia ser
Uma peça do destino
Faria ele sofrer sofrer
Nas suas expectativas
Não esperava morrer.

Rodando pelo terreno
O sol já a esquentar
Cansado embora avexado
Começando a suar
O boi fujão do patrão
Ele precisava achar.

Avistou bem longe a imagem
Do denominado boi
Sem analisar duas vezes
Para lá então ele foi
Galopando em seu cavalo
Usando o vergai de boi.

Ele com todo cuidado
Quando foi entrar no mato
Pois o boi era ligeiro
Parecido um veloz gato
Pra pegar ele tem que
Ser mesmo bruto de fato.

Logo no centro do mato
Percebeu o rastro dele
Então, seguindo adiante,
Olhou a sombra, era ele
Deu quatro altíssimos gritos
E botou o cavalo nele.

Correu com ele no chão
Corria em cima da chapada
Saíram numa disparada
A procura da baixada
Deixando pedra, espinho
E catingueira arrancada.

Foi pegar ele já perto
De um grande lajedão
O boi velho não aguentou
Tava fraco e suadão
Ficou o cheiro da caatinga
Das perneiras e gibão.

O homem tinha confiança
De que o boi estava pego
Porém uma realidade
Veio acabar com o seu ego
O animal tinha outros planos
E isso o deixou bem cego.

O boi então rugiu alto
E em disparada saiu
Dando um susto no cavalo
Que ligeiro sacudiu
Empinando muito alto
Sobre o lajedo caiu.

Com sua tenebrosa queda
O vaqueiro também caiu
Sobre o grande lajedão
Uma forte dor sentiu
A cabeça então sangrou
E o seu crânio partiu.

Viu então se escapar
Pelos seus suados dedos
Seu futuro, sua vida
Levando embora seus medos,
Chamegos, arreios, tempo
Dando adeus a seus apegos.

A morte foi inevitável
O vaqueiro e seu cavalo
Não puderam resistir
Da morte foram escravos
Partindo desse mundão
Deixando seus velhos rastros.

Ambos sangraram muitíssimo
Não havia o que se fazer
Infelizmente se foram
Não deu para socorrer
Mas as coisas são assim
Quando tem que acontecer.

O boi saiu mundo a fora
Sem haver eira, nem beira .
Do vaqueiro só lembranças
Nesse sertão sem porteira
Deixando muitas saudades
Se foi como poeira.

Jai em casa trabalhando
Sem saber do acontecido
Uma dor sentiu no peito
Era o coitado marido
O respeitado vaqueiro
Qual havia falecido.

Quando soube da notícia
Gritou e deu-se a chorar
Sem compreender o motivo
Não dava pra segurar
Queria saber a razão
Nunca mais iria amar.

Quando a morte mata um
Dá as costas, vai embora…
Vai soltando gargalhada
Por esse mundão afora
É rápida e dolorosa
Vem sem dizer sua hora.

Levou o afamado vaqueiro
Entretanto ainda é lembrado
Pelos seus mais coligados
Continuamente falado
Por todos da região
É amado e recordado.

Quando muitos fazem guerra
Trazendo fome e tristeza,
Sua luta era com a terra
Pra não faltar pão na mesa
Com as suas mãos calejadas
Saudades deixou, certeza

No céu hoje ele está
Junto com seu cavalo
Eram sim inseparáveis
O peão não o deixou
Suas estrelas brilham forte
Nesse céu tão iluminado.

Se foi o vaqueiro testado
Morreu sem deixar tustão
Nunca mais ele aboiou
Mas seu nome lembrarão
Suas vestes bem guardadas
Servem de consagração.

AUTORIA: Fabiana de Oliveira Souza

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